Por onde andam os direitos da Mulher Palestina?

Neste ano em que uma cruel guerra colonial dizima o povo palestino, neste ano em que Portugal festeja o fim de uma guerra colonial imposta à população portuguesa durante 13 longos anos, neste dia 8 de Março de 2024, Dia Internacional da Mulher, por onde andarão os direitos humanos na martirizada Palestina ocupada e, em particular, os direitos das mulheres palestinas?

Em Gaza, desde 7 de outubro de 2023, mais de 30 000 palestinos morreram, há mais de 70 000 feridos, há quase oito milhares de desaparecidos. Estima-se que 70% das vítimas mortais são mulheres e crianças. Entre os detidos palestinos sob custódia, 27 morreram nos últimos dias.

Nestes quase cinco meses - 154 dias - de massacres e de destruições, de privação de água, de alimentos, de cuidados de saúde, as transferências forçadas atingiram 75% da população de Gaza, onde, actualmente, se morre de fome...

E não só em Gaza se faz sentir a opressão colonial de Israel. Na Cisjordânia, em Jerusalém, dentro do Estado de Israel, os direitos dos palestinos são espezinhados, a sua integridade física e as suas próprias vidas estão em risco constante, com militares e colonos conluiados para roubar, agredir e matar. E é às mulheres, crianças e idosos, os mais vulneráveis, que é inflingido o maior sofrimento.

Neste momento tão dramático para os palestinos, para os povos do Médio Oriente, e por consequência, para todo o mundo, damos a palavra a poetas palestinas que tão bem conseguem exprimir o sofrimento mas, sobretudo, a esperança e a revolta de um dos últimos povos colonizados no mundo, com o qual o MPPM é profundamente solidário e continuará a sê-lo até que a justiça seja reestabelecida, e a soberania da Palestina independente reconhecida.


MORTE POR ENTERRAMENTO [1]
por Hanan Ashrawi [2]

Este local não é
Próprio para plantar.
Aqui a terra é
Dura, seca, irritante –
Agulhas de folhas mortas
Arranham.
Fecho os olhos, o pó
Sufoca-me a garganta,
Nunca pensei que a terra
Pudesse ser tão pesada,
Talvez se eu
Levantar um braço
Alguém venha atravessar
Um dia a minha sepultura e,
Como nas noites dos filmes de terror,
Veja uma mão sem vida, uma palma aberta.
Dedos meio enrolados...
E grite.
Eu não morri nesse dia –
Outra coisa sucedeu
E ainda permanece
Na sepultura pútrida
Fermentando o conhecimento das trevas.

BASTA-ME
por Fadwa Tuqan [3]

Basta-me morrer na minha terra
Ser sepultada nela
Desfazer-me e desaparecer no seu solo
E depois renascer como um rebento de erva
Como uma flor na mão de uma criança que cresceu no meu país.
Basta-me permanecer
No amplexo do meu país
Como terra, rebento de erva e flor.

ÚLTIMAS PALAVRAS DOS MÁRTIRES NA PALESTINA
por Hanan Awwad [4]

Não estejas triste. A noite deixou cair o seu pano,
A madrugada apertou o coração exprimindo tristeza.
Quando o sol desaparecer no horizonte, não fiques triste
Porque a nossa alma está a transbordar de amor
E de desejo ardente.
Não chores, alegra-te pelo combatente
Que procurou a glória para a sua pátria.
Ó Jerusalém, símbolo de eternidade para um povo generoso,
Símbolo que perdurará até ao fim dos tempos.
Ó Jerusalém, a tua chaga é a nossa chaga,
Arma-te de paciência e consola-te.
O nosso mar e as nossas areias
Ergueram-se para abater os inimigos e a tirania.
Como poderíamos viver quando sangram as nossas feridas,
Quando a nossa terra permanece sequiosa e suportamos o martírio?
A morte, ou mesmo o inferno das grades das prisões,
É preferível a uma vida humilhante.
Não escrevemos poemas pela fama,
Pela riqueza ou por uma posição invejável.
Mas é o hino do coração que
Se confunde com o espírito do sacrifício ilimitado.
Juro pelos revolucionários, pela chaga
Que trazemos dentro de nós, pela terra, pelo homem;
Juro pelos homens livres, pelo amor que
Habita em nossos corações, pela luz e pelo fogo.
Juro que defenderemos a nossa pátria
Tal como ela nos ensinou.


Notas:
[1] Em Fevereiro de 1988 soldados israelitas enterraram vivos quatro jovens – Isam Shafiq Ishtayyeh, Abdel-Latif Mahmud Ishtayyeh, Muhsin Hamdan e Mustafa Abdel-Majid Hamdan – da aldeia de Salim, perto de Nablus. Depois de os soldados partirem, os aldeões escavaram as sepulturas e conseguiram resgatá-los com vida.
[2] Hanan Ashrawi nasceu em 1946 em Nablus.
[3] Fadwa Tuqan nasceu em 1917 e faleceu em 2003 em Nablus.
[4] Hanan Awwad nasceu em 1951 em Jerusalém.
[5] Todos os poemas em: Documentos MPPM n°5, A Poesia Palestina do Século XX, selecção e tradução de Júlio de Magalhães.


Foto: Agência Anadolu
 

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