MPPM lamenta falecimento de Uri Avnery, incansável obreiro da paz baseada no respeito pelos direitos dos palestinos

COMUNICADO 11/2018
O MPPM lamenta o falecimento, no passado dia 20 de Agosto, de Uri Avnery, que dedicou a sua vida à causa da paz entre israelitas e palestinos. Nascido na Alemanha em 1923, com o nome de Helmut Ostermann, Uri Avnery emigrou com a família para a Palestina do Mandato Britânico em Novembro de 1933, poucos meses depois de Hitler subir ao poder.
Em 1938, com 15 anos, Uri Avnery aderiu ao Irgun, um grupo sionista de extrema-direita, mas rapidamente se desiludiu com a sua retórica e prática anti-árabe.
Antes da criação de Israel, Avnery acreditava num Estado único para todos os habitantes da Palestina, judeus e árabes.
 
Porém, após participar na guerra israelo-árabe de 1948-1949, de onde regressou ferido, convenceu-se da necessidade da coexistência no território da Palestina de dois Estados, incluindo, portanto, um Estado da população árabe palestina.
 
Como diria mais tarde, «A Guerra convenceu-me de que existe um povo palestino e de que a paz tem que ser construída primeiro que tudo com eles».
Foi um dos primeiros a defendê-lo, e dedicou o resto da sua vida a esta causa. Entre os anos 1950 e 1970, Uri Avnery destacou-se sobretudo como jornalista, na direcção da revista HaOlam HaZeh. A crítica às políticas dos governos de Israel e o apoio a um pensamento alternativo à vulgata sionista fizeram com que fosse considerado pelos próprios serviços de segurança de Israel como «inimigo n.º 1 do Governo».
 
Foi também nessa qualidade de jornalista que, em verdade, nunca abandonou, que se colocou ao lado dos cidadãos palestinos de Israel na luta contra o governo militar a que estavam sujeitos e na denúncia do massacre de Kafr Qasem, em 1956.
 
Foi eleito para o Parlamento de Israel em 1965, 1969 e 1977.
 
Em 1981, ostentando na lapela as duas bandeiras, de Israel e da Palestina — facto inédito para um deputado do Knesset —, renunciou ao cargo num discurso que ficaria célebre.
Avnery foi um dos primeiros israelitas a ter contactos com a Organização de Libertação da Palestina, tendo-se encontrado com um enviado de Arafat em 1974, altura em que tal era proibido em Israel.
 
Em Julho de 1982, no auge da primeira guerra no Líbano, em Beirute cercada pelas tropas israelitas, Uri Avnery encontrou-se com Yasser Arafat, a primeira vez que um israelita se encontrou com o líder palestino.
 
Nos anos seguintes Avnery voltou a encontrar-se várias vezes com Arafat, nomeadamente depois do regresso deste à Palestina em 1994.
 
Em 2003, durante o cerco israelita à Muqata, em Ramala, que durou até Outubro de 2004, Avnery acompanhou Arafat, dispondo-se como «escudo humano» para a defesa do complexo presidencial palestino. Amigo de longa data do dirigente nacional palestino, Uri Avnery foi um dos que acusaram directamente Israel pelo envenenamento de Arafat.
Em 1993 Avnery fundou o Gush Shalom, movimento pela paz que apoiava a criação de um Estado palestino, sendo Jerusalém capital dos dois países, e defendia o desmantelamento dos colonatos israelitas nos territórios palestinos ocupados.
 
Uri Avnery foi o mais consequente e determinado defensor da solução de dois Estados e do diálogo com as forças políticas palestinas, incluindo o Hamas. Em 2013, foi um dos subscritores de um apelo dirigido ao Supremo Tribunal de Israel para que fosse concedida a nacionalidade israelita a todos os cidadãos do Estado de Israel.
 
A sua última batalha, à qual dedicou o último artigo que assinaria escassos dias antes da sua morte, foi a chamada lei do Estado-nação, aprovada recentemente no Knesset, e que apelidou então de «semifascista».
 
Num clima político cada vez mais dominado pelos movimento de colonos e pela extrema-direita, em Israel vai fazer-se sentir a falta da voz corajosa e desassombrada de Uri Avnery, defendendo uma paz baseada no reconhecimento dos direitos nacionais do povo palestino.
 
Mas o combate pelos seus ideais não cessará.
 
Como o próprio Uri Avnery escreveu na última página do seu diário: «A vida prossegue, a luta continua. Amanhã é um novo dia.»
 
Lisboa, 23 de Agosto de 2018
A Direcção Nacional do MPPM
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