Milhares nas cerimónias fúnebres de Shireen Abu Akleh

Culminando três dias de homenagens fúnebres, acompanhadas por numerosas pessoas, a jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh foi hoje a enterrar ao lado de seus pais no cemitério do Monte Sião, em Jerusalém.

O corpo de Abu Akleh foi trazido de Jenin, onde ela foi assassinada pelas forças israelitas na quarta-feira, quando fazia uma reportagem sobre uma rusga do exército israelita no campo de refugiados de Jenin, para Jerusalém via Nablus e Ramala.

Hoje, sexta-feira, o cortejo fúnebre, integrando milhares de pessoas, saiu do Hospital Francês de São Luís, onde o corpo de Abu Akleh permaneceu durante a noite, até à Porta de Jafa, na Cidade Velha de Jerusalém, seguindo para a Catedral da Anunciação da Virgem onde foi realizado um serviço fúnebre à tarde.

Forças israelitas carregam sobre cortejo fúnebre

As forças de segurança israelitas carregaram sobre os participantes no cortejo fúnebre que pretendiam fazer a pé o cortejo entre o Hospital Francês de São Luís e a Catedral da Anunciação da Virgem, transportando a urna de Shireen em ombros, quase fazendo tomar o corpo.

Os israelitas não permitiram o cortejo a pé e obrigaram a seguir de automóvel. Os dois locais distam menos de um quilómetro.

«Ainda estão a tentar silenciar a minha tia»

A sobrinha de Abu Akleh, Lina Abu Akleh, disse que as forças israelitas «ainda estão a tentar silenciar» a sua tia e as pessoas reunidas para o funeral.

«Mesmo um funeral no nosso país, na Palestina, não ocorre pacificamente. Infelizmente houve múltiplos postos de controlo israelitas a caminho do hospital impedindo os carros de chegar ao hospital, e também estão a limitar o número de carros que podem chegar à Porta de Jafa, junto à Catedral», disse ela à Al Jazeera.

«Isto demonstra que, apesar de a terem silenciado ao assassiná-la, continuam a tentar silenciar e impedir o povo de estar connosco, trazendo-lhe o seu amor e apoio, e honrando o seu legado durante esta horrível tragédia», disse ela.

O grave crime de exibir uma bandeira palestina

Imran Khan, da Al Jazeera, relatou que as forças israelitas prenderam pelo menos quatro pessoas por hastearem a bandeira palestina em Jerusalém Oriental ocupada. Aparentemente, isso é ilegal ao abrigo da lei israelita.

«Agora, quando o carro de Shireen com o caixão chegou, havia uma bandeira palestina em exposição na parte de trás do carro. A polícia israelita partiu o vidro e levou a bandeira».

Shireen Abu Akleh terá influência em todo o mundo

O padre cristão que oficiou no funeral de Shireen Abu Akleh disse à Al Jazeera antes da cerimónia que ela «terá influência em todo o mundo».

«Não acreditamos no amor ao poder, acreditamos no poder do amor», disse o padre Fadi Diab. «Ninguém pode comparar o caso palestino com qualquer outra violência no mundo ou qualquer outra guerra porque qualquer nação que tenha tido uma guerra, ainda tem a sua identidade, a sua terra mas nós perdemos a nossa terra, a nossa identidade.».

45 jornalistas mortos pelas forças israelitas desde 2000

Pelo menos 45 jornalistas foram mortos pelas forças israelitas desde 2000, de acordo com o Ministério da Informação palestino, citado pela Al Jazeera. No entanto, o Sindicato dos Jornalistas Palestinos coloca o número de mortos em 55.

A morte de Abu Akleh é a última de uma vasta lista de jornalistas mortos pelo exército israelita, que tem uma longa história de atingir repórteres e outros membros dos meios de comunicação social.

No ano passado, durante o ataque mais recente de Israel a Gaza, em 15 de Maio, o edifício que albergava os escritórios da Al Jazeera e outras organizações da comunicação social foi destruído num ataque israelita.

A Al Jazeera condenou o ataque aos seus escritórios e apelou a «todos os meios de comunicação e instituições de direitos humanos para unirem forças» para denunciarem o atentado e «responsabilizarem o governo de Israel.»

Contudo, o assassinato de jornalistas pelas forças israelitas continua.

Peritos da ONU: assassinato de Shireen pode constituir crime de guerra

Um painel de peritos em direitos humanos das Nações Unidas condenou o assassinato do correspondente da Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, e afirmou que pode constituir um crime de guerra.

Num comunicado de imprensa publicado nesta sexta-feira, o Gabinete de Direitos Humanos do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (OHCHR) apelou a uma investigação exaustiva e independente sobre a sua morte.

«As autoridades têm a obrigação de não prejudicar os jornalistas e de os proteger de danos ao abrigo do direito humanitário internacional e do direito internacional dos direitos humanos. O assassinato de Abu Akleh, que estava claramente a desempenhar as suas funções como jornalista, pode constituir um crime de guerra.»

«Exigimos uma investigação rápida, independente, imparcial, eficaz, completa e transparente sobre o assassinato de Shireen Abu Akleh».

Entretanto, o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse que levaria o caso de Abu Akleh ao Tribunal Penal Internacional num esforço para obter justiça para a jornalista veterana, que se juntou à Al Jazeera em 1997, e foi um ícone na Palestina e no mundo árabe em geral.


Foto: Funeral de Shireen Abu Akleh (Ahmad Gharabli / AFP)

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