Mais de 20 000 desfilam no Norte de Israel para assinalar a Nakba

Segundo informa o jornal israelita Haaretz, mais de 20.000 pessoas participaram hoje, 19 de Abril, num desfile para assinalar a Nakba («catástrofe», em árabe), a limpeza étnica levada a cabo pelas forças sonistas antes e depois da formação do Estado de Israel, em 1948, e em que mais de 750 000 palestinos foram expulsos das suas casas e das suas terras.
A Associação para a Protecção dos Direitos dos Desalojados organizou o evento pelo 21.º ano consecutivo, coincidindo com as comemorações do «Dia da Independência» de Israel. (A independência de Israel foi proclamada a 14 de Maio de 1948, segundo o calendário gregoriano; porém, em Israel as comemorações ocorrem no dia 5 de Iyar do calendário judaico, que é de base lunissolar, sendo por isso uma data móvel.)
Apelidado «Desfile do Retorno», o evento ocorre a cada ano nas terras de uma aldeia diferente que sofreu a expulsão e destruição em 1948. Este ano aconteceu na área de Atlit, ao sul de Haifa, no Norte de Israel.
Nos últimos anos o desfile tornou-se uma grande manifestação, com participantes provenientes de todo o espectro político dos cidadãos palestinos de Israel. Também participaram israelitas judeus que se identificam com o campo democrático liberal, assim como judeus ultra-ortodoxos.
Os manifestantes empunhavam bandeiras palestinas e cartazes com os nomes de mais de 530 aldeias cujas populações foram expulsas em 1948. Segundo os organizadores, o aumento da participação de jovens este ano significa que as gerações mais jovens não esquecerão a Nakba e o direito ao retorno.
Sliman Fahamawi, membro da associação que organiza o desfile, afirmou no seu discurso: «Durante gerações [as autoridades israelitas] tentaram negar a Nakba e o direito ao retorno», mas «os muitos milhares aqui reunidos dizem que o direito ao retorno é um direito sagrado a que ninguém pode renunciar».
Por seu lado, Mohammad Barakhe, presidente do Alto Comité de Acompanhamento dos Cidadãos Árabes de Israel, organismo que representa os palestinos cidadãos de Israel, declarou: «Neste dia eles tentam distorcer a história, mas estamos aqui para dizer que não nos esquecemos. A Nakba é uma recordação dura e dolorosa para todos os palestinos, especialmente aqueles que foram desalojados das suas casas.»
Os palestinos cidadãos de Israel afirmam-se assim mais uma vez como parte da nação palestina, retalhada e reprimida por Israel, mas continuando a reivindicar a sua identidade e o seu direito ao retorno, como neste momento evidencia a Grande Marcha do Retorno, que tem particular expressão na Faixa de Gaza.
Actualmente há cerca de 1 700 000 palestinos que são cidadãos de Israel, constituindo 20% da população e sendo sujeitos a uma série de leis discriminatórias, já que só os judeus gozam de direitos plenos em Israel. São os descendentes dos 20% de palestinos que permaneceram no território ocupado pelo Estado judaico, sendo os outros 80% expulsos. Os palestinos que foram expulsos das suas casas durante o período de conflito armado mas permaneceram naquilo que veio a ser território israelita foram classificados como «ausentes presentes», sendo-lhes recusada autorização para retornarem às suas casas e terras, que foram expropriadas e transformadas em propriedade estatal. Cerca de um quarto dos palestinos cidadãos de Israel são «ausentes presentes» ou deslocados internos. 
Até 1966 os palestinos de Israel viveram sujeitos à lei marcial. O aparelho militar com que o Estado sionista passou a administrar os territórios palestinos da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza, ocupados em 1967, estava assim já pronto e experimentado por quase duas décadas de administração e repressão dos palestinos de Israel.
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