Fotojornalista palestino vence World Press Photo 2024

O fotojornalista palestino Mohammed Salem, da Reuters, obteve o prémio para a melhor fotografia do ano da World Press Photo (WPF) com a fotografia Uma mulher palestina a abraçar o corpo da sua sobrinha. A mulher é Inas Abu Maamar, de 36 anos, que abraça o corpo da sua sobrinha Saly, de cinco anos, morta, juntamente com a mãe e a irmã, quando um míssil israelita atingiu a sua casa, em Khan Younis, Gaza.

O fotógrafo descreve esta fotografia, tirada poucos dias depois de a sua própria mulher ter dado à luz, como um «momento poderoso e triste que resume o sentido mais lato do que estava a acontecer na Faixa de Gaza». Encontrou Inas agachada no chão, abraçando a criança, na morgue do Hospital Nasser, onde os residentes iam à procura de familiares desaparecidos. Inas tinha corrido para a casa da família quando soube que tinha sido atingida e depois para a morgue.

O fotógrafo

Mohammed Salem, nascido em 1985, é um fotojornalista palestino que vive na Faixa de Gaza. É licenciado em Comunicação Social pela Universidade de Gaza e trabalha para a Reuters desde 2003. Embora o seu principal objectivo seja documentar o conflito entre palestinos e israelitas, também tem feito a cobertura de vários eventos noticiosos internacionais.

Salem foi vencedor do Concurso Internacional de Fotografia de Imprensa da China de 2004 e ganhou o prémio Pictures of the Year International (POYI) duas vezes, em 2018 e 2023. Salem também recebeu um prémio de imprensa do Dubai Press Club, um prémio atribuído a um jovem fotógrafo árabe.

Parecer do júri

O júri ficou profundamente comovido com a forma como esta imagem evoca uma reflexão emocional em cada espectador. Composta com cuidado e respeito, oferece ao mesmo tempo um vislumbre metafórico e literal de uma perda inimaginável. Situada num ambiente médico geograficamente distante, tem um impacto global, incitando-nos a confrontar a nossa dessensibilização relativamente às consequências do conflito humano. A imagem tem várias camadas, representando a perda de uma criança, a luta do povo palestino e as 31 000 mortes na Palestina. Símbolo do custo do conflito, a imagem faz uma declaração sobre a futilidade de todas as guerras. O júri reconheceu que este fotógrafo foi premiado pelo mesmo tema há quase uma década, o que sublinha a luta contínua pelo reconhecimento de uma questão tão premente.

O contexto

Na sequência dos acontecimentos de 7 de Outubro de 2023, Israel lançou uma ofensiva contra Gaza que já causou mais de 100 000 vítimas palestinas, entre mortos, feridos e desaparecidos. No início da guerra, Israel deu instruções aos habitantes da Faixa de Gaza para evacuarem para a zona a sul do rio sazonal Wadi Gaza, para sua segurança. No entanto, a partir de meados de Outubro, Israel bombardeou pesadamente a cidade de Khan Younis, que fica 22 km a sul daquele rio. Muitos dos mortos eram famílias que tinham deixado a cidade de Gaza dias antes.

Circuito mundial

A exposição World Press Photo 2024 é inaugurada amanhã, 19 de Abril, na De Niewe Kerk, em Amsterdão. Inicia depois um circuito mundial com passagem por Portugal prevista para 29 de Julho a 18 de Agosto, em Portimão.

Prémio Ortega y Gasset

O júri da 41ª edição dos Prémios de Jornalismo Ortega y Gasset, os mais prestigiados do jornalismo em língua espanhola, reunido no dia 20 de Março, atribuiu o Prémio Ortega y Gasset para a melhor fotografia ao fotógrafo Mohammed Salem por esta imagem de Inas Abu Maamar a abraçar o corpo sem vida da sua sobrinha Saly.

A fotografia foi tirada em 17 de Outubro, distribuída pela Reuters e publicada em vários meios de comunicação social de todo o mundo. O júri considerou que se tratava de «uma imagem esmagadora e poderosa do que está a acontecer em Gaza. É a dor, o vazio e o horror de alguém que parece abraçar o impossível: recuperar a vida da rapariga. E não é só o que ela conta, mas como conta: com sobriedade e sem sequer mostrar a cara».
 


Fontes: World Press Photo, El País
 

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