Terminou há 20 anos a guerra que Israel perdeu

Em 24 de Maio de 2000, as forças armadas de Israel retiraram do Líbano, pondo termo, sem honra nem proveito, a uma invasão que se prolongou por 18 anos, iniciada em 6 de Junho de 1982 com o que os israelitas designaram por Operação Paz para a Galileia.

O poderoso Estado sionista foi forçado a retirar, sem negociações nem condições, pela resistência tenaz do povo libanês desde a primeira hora.

O objectivo alegado para a operação israelita era proteger as populações do Norte da Galileia dos ataques dos palestinos instalados no Líbano.

Ariel Sharon, ministro da Defesa de Israel, queria ter o aval norte-americano para invadir o Líbano, mas o Secretário de Estado, Alexander Haig, só lho daria se «houvesse uma provocação clara reconhecida internacionalmente». E, como por coincidência, Abu Nidal, um adversário declarado de Yasser Arafat, orquestrou o assassinato do embaixador israelita em Londres.

Sharon tinha o pretexto que lhe faltava para dar início à invasão do Líbano, o primeiro passo para o seu plano de domínio da região. Mas as coisas não lhe correram de feição.

A OLP, liderada por Yasser Arafat até à sua morte em 2004, foi forçada a trocar o Líbano pela Tunísia, mas continuou a ser reconhecida como legítima representante do povo palestino. Em 15 de Novembro de 1988, em Argel, proclamou a independência da Palestina.

Os horríveis massacres nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, instigados por Sharon e conduzidos pelas milícias cristãs libanesas com o apoio do exército israelita, não tiveram o efeito pretendido de levarem os palestinos a fugir para a Síria.

No plano militar, os resultados não foram melhores: o esperado passeio do exército israelita até Beirute encontrou forte resistência e só violando um cessar-fogo é que Sharon se instalou em Beirute Oriental, e os confrontos com o exército sírio redundaram em derrotas para Israel.

Uma consequência importante da invasão israelita do Líbano foi o crescimento do Hezbollah. A população xiita do Sul do Líbano, que empreendeu uma luta de guerrilha contra o invasor, encontrou naquela milícia xiita um poderoso apoio para a guerra de desgaste que se prolongou até à retirada de Israel em 2000.

A campanha do Líbano não conseguiu nenhum dos objectivos com que Sharon a empreendeu, mas parece ter tido discípulos: num vídeo divulgado em 2004, Osama Bin Laden diz que, para o ataque aos Estados Unidos em 11 de Setembro de 2001, se inspirou no assalto israelita a Beirute, em que viu torres e edifícios a serem destruídos.

No ano anterior ao início da invasão israelita e nas duas décadas que se seguiram à sua retirada – com a excepção de um breve período de pouco mais de um mês, entre 12 de Julho e 14 de Agosto de 2006, numa outra guerra em que Israel não pôde reclamar vitória – a fronteira israelo-libanesa tem estado calma, o que leva a questionar, por um lado, a lógica de uma agressão que durou 18 anos, e por outro a pôr em relevo a força adquirida pela resistência libanesa.

 

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