Recordando Rachel Corrie, morta há 18 anos pelo exército israelita

Rachel Corrie, uma jovem estudante norte-americana, foi morta por um bulldozer do exército israelita quando tentava impedir a demolição de uma casa palestina na Faixa de Gaza. Foi há 18 anos, mas não podemos deixar que a memória se apague.

Rachel tinha 23 anos. Ela e mais oito outros activistas do Movimento de Solidariedade Internacional (ISM) utilizavam meios não violentos de intervenção para parar a demolição de habitações no campo de refugiados de Rafah, na Faixa de Gaza, junto à fronteira com o Egipto.

As autoridades israelitas alegavam que as demolições eram necessárias por razões de segurança, mas os grupos de direitos humanos contrapunham que as demolições representavam uma forma de punição colectiva.

No dia 16 de Março de 2003, Rachel subiu para um monte de terra que se interpunha entre o bulldozer do exército israelita e a casa ameaçada de demolição. Envergava um colete laranja fluorescente e as testemunhas no local garantem que estava perfeitamente visível para o condutor do bulldozer.

O bulldozer avançou lentamente na sua direcção, no que parecia ser uma manobra já habitual nestas situações. De facto, num outro incidente ocorrido um mês antes, em 14 de Fevereiro, os activistas que permaneceram no caminho do bulldozer foram sendo empurrados fisicamente com a pá para trás.

Mas naquele dia, quando o monte de terra começou a ser empurrado pela máquina, Rachel perdeu o equilíbrio e escorregou.

Conscientes do perigo, os colegas gritaram para alertar o condutor, mas ele continuou a sua marcha, atropelando Rachel. Depois parou, inverteu a marcha, e voltou a passar por cima dela.

Uma investigação interna conduzida pelo chefe de estado-maior do exército israelita concluiu, um mês após a morte de Rachel Corrie, que as suas forças não tinham culpa, que ela estava escondida atrás de um monte de terra e que o condutor do bulldozer não a tinha visto.

O mesmo resultado deram os processos interpostos pelos pais de Rachel nos tribunais israelitas.

O Juiz Oded Gershon, do Tribunal Distrital de Haifa, em 28 de Agosto de 2012, ilibou o condutor e responsabilizou Rachel: «Ela não se afastou da área, como qualquer pessoa pensante teria feito. Ela colocou-se conscientemente em perigo».

Cindy Corrie, a mãe de Rachel, comentou: «Este foi um dia mau, não só para a nossa família, mas foi um dia mau para os direitos humanos, para a humanidade, para o primado do direito e também para Israel».

«Desde o início ficou claro para nós que havia um processo de investigação, investigações operacionais, investigações da polícia militar, e hoje foi-nos confirmado que isso se estende através do sistema judicial em Israel — um sistema bem montado para proteger os militares israelitas, os soldados que conduzem acções nesse exército, para lhes proporcionar impunidade à custa de todos os civis que são afectados pelo que fazem», acrescentou Cindy Corrie.

Em 13 de Fevereiro de 2015 o Supremo Tribunal de Israel indeferiu o recurso da família Corrie mantendo a decisão da instância inferior.

«A nossa família está decepcionada, mas não surpreendida», disse a família Corrie numa reacção à sentença. «No entanto, é evidente que esta decisão (…) equivale ao sancionamento judicial de imunidade para as forças militares israelitas quando estas cometem injustiças e violações dos direitos humanos.»

«No dia seguinte à morte de Rachel, o Primeiro-Ministro Sharon prometeu ao Presidente Bush uma investigação exaustiva, credível e transparente. Claramente, essa promessa não foi cumprida.»

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