Pintor palestino «pioneiro» Kamal Boullata falece aos 77 anos

O artista plástico e historiador palestino Kamal Boullata, de 77 anos, faleceu em Berlim na quarta-feira.

Boullata nasceu em Jerusalém em 1942 e a cultura visual da capital palestina foi uma importante inspiração do seu trabalho.

Tendo sido forçado ao exílio após a ocupação da cidade por Israel em 1967, a identidade tornou-se outro tema-chave do seu trabalho.

Passou as últimas cinco décadas de vida nos EUA, Marrocos e França, acabando por se fixar em Berlim em 2012. Depois de estudar arte em Roma na Accademia di Belle Arti em 1965, Boullata obteve um Master of Fine Arts da Corcoran School de Arte em Washington, em 1971.

O seu ensaio «A arte no tempo da revolução palestina», publicado na revista libanesa Mawaqif em Janeiro de 1971, esboça como deveria ser a autêntica arte revolucionária palestina: não a repetição de temas palestinos facilmente vendáveis, mas obras de arte que avancem em novas formas e ideias.

As suas linhas iniciais são um testemunho daquilo em que acreditava: «Há duas figuras na sociedade cujas palavras são menos importantes do que as suas acções: o político e o artista. Um pintor árabe que se põe a falar de arte em vez de pintar verdadeiramente é muito parecido com o político árabe que está numa tribuna a falar-nos da nossa história futura enquanto nós estamos deitados nas nossas camas.»

Nos anos 1970 e 1980, Boullata fez parte do movimento hurufiyya, em que artistas procuraram conferir à caligrafia árabe o espírito e as práticas do modernismo.

Os trabalhos iniciais de Boullata evidenciavam a influência da geometria, mas mais tarde interessou-se por retratar a luz e a transparência. Reflectindo sobre as suas pinturas da luz natural numa entrevista de 2018 ao site Electronic Intifada, comentou: «Talvez tenha sido a luz de Jerusalém que tenho sempre procurado recapturar.»

Boullata estudou arte islâmica em Marrocos na década de 1990, e em 2001 começou a investigar as origens da arte contemporânea na Palestina. Publicou quatro estudos pioneiros sobre a arte palestina e a globalização, o primeiro em árabe e os outros em inglês.

A sua obra está representada nas coleções do Museu Britânico, Londres; Darat al-Funun: a Fundação Khalid Shoman, Amã; Museu Islâmico Patronato de la Alhambra, Granada; Museu de Arte de Sharjah; Institut du Monde Arabe, Paris; Galeria Nacional de Belas Artes da Jordânia, Amã; Biblioteca Pública de Nova York; Mathaf: Museu Árabe de Arte Moderna, Doha; e Bibliothèque Louis Notari, Mónaco.

«A Palestina acaba de perder um artista verdadeiramente excepcional e um pioneiro cultural», escreveu Hanan Ashrawi, membro do Comité Executivo da OLP,  a propósito do falecimento de Kamal Boullata. «Ele ocupou um espaço especial no universo do génio criativo, com um rico e inumerável legado raramente alcançado. Lamentamos profundamente a sua perda.»

Também o Ministério da Cultura palestino lamentou a morte do artista: «O movimento cultural palestino perde um artista dedicado que ficará para sempre na história e no futuro da arte palestina como uma expressão de liberdade, luta e criatividade, e na memória das gerações inspiradas pelo seu trabalho.»

Foto: Baaz

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