Os palestinos não podem usar o PayPal — mas os colonos israelitas podem

O PayPal tem sido condenado por recusar que os palestinos da Margem Ocidental ocupada e da Faixa de Gaza abram contas na empresa de pagamentos electrónicos, a mais importante do sector. Ao mesmo tempo, os israelitas que vivem quer em Israel quer nos colonatos na Margem Ocidental, ilegais à luz do direito internacional, têm acesso ao serviço do PayPal sem qualquer problema. Esta discriminação é tanto mais chocante quanto a moeda usada na Palestina é o shekel israelita.
Uma carta aberta a Daniel Shulman, o CEO do PayPal, redigida pela organização Americans for a Vibrant Palestinian Economy (A4VPE) e assinada por dezenas de empresas palestinas e grupos pró-palestinos afirma: «A ausência do PayPal é um grande obstáculo ao crescimento do sector tecnológico e da economia da Palestina no seu conjunto. … Sem acesso ao PayPal, os empresários, organizações sem fins lucrativos e outras organizações palestinas enfrentam dificuldades constantes em receber pagamentos … a ausência do PayPal é problemática para a economia palestina no seu conjunto porque a tecnologia é um dos únicos sectores com potencial para crescer nas condições existentes da ocupação israelita, que restringe severamente o movimento interno e transfronteiriço de bens e pessoas. Entrando no mercado palestino o PayPal tem a oportunidade de contribuir significativamente para aliviar as desestabilizadoras taxas de desemprego de mais de 25% na Margem Ocidental e 40% em Gaza.» Por outro lado, assinala a carta, o PayPal opera actualmente em mais de 203 países, incluindo a Somália e o Iémen, o que torna ainda mais incompreensível a sua discriminação dos palestinos.
O empresário americano-palestino Sam Bahour, que esteve na origem da carta da A4VPE, assinala num artigo que «é um mistério» por que é que a Paypal continua a ignorar este mercado, já que «a Palestina tem um activo sector bancário e todos os bancos palestinos têm bancos estado-unidenses correspondentes que efectuam diariamente transferência de dinheiro. … Muitos destes colonos israelitas ilegais vivem literalmente a poucos minutos a pé de onde eu moro, mas eles têm acesso ao PayPal e os palestinos não». Bahour chama ainda a atenção para o facto de a Palestina formar anualmente 2000 licenciados em tecnologias da informação.
Dezenas de deputados britânicos manifestaram a sua «preocupação e surpresa» por o Paypal «não estar disponível para os palestinos que vivem na Margem Ocidental e em Gaza, apesar de estar disponível para os utilizadores de Israel e para os colonos israelitas que vivem na Margem Ocidental ocupada».
Em resposta à política discriminatória do PayPal, foi lançada no Twitter uma campanha — # paypal4palestine — para chamar a atenção para o problema. Existe igualmente uma petição on-line reclamando o fim da discriminação dos palestinos.
Inquirido sobre a questão, o PayPal deu uma resposta vaga que de facto evita responder ao problema: «Agradecemos o interesse que a comunidade palestina tem mostrado pelo Paypal. Não temos nada a anunciar para o futuro imediato, mas trabalhamos continuamente para desenvolver parcerias estratégicas, encarar a viabilidade de negócios…»
Porém, uma explicação para a atitude do PayPal pode ser o facto de a empresa possuir em Israel um centro de detecção de fraudes (o segundo maior centro de desenvolvimento da empresa, após o da sede, em San José, na Califórnia), onde trabalham «100 israelitas, na sua maioria veteranos do corpo de informações das Forças de Defesa [forças armadas] de Israel», segundo notícia do jornal israelita Haaretz.
 
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