Netflix lança colecção com 32 filmes palestinos

A Netflix lançou, na semana passada, uma colecção de «Histórias Palestinas», exibindo filmes de cineastas palestinos ou sobre histórias palestinas. A colecção iniciou-se com 32 filmes, com mais a serem adicionados nas próximas semanas, e a maioria dos títulos será transmitida globalmente, assegura a Netflix.

«Apresentando as obras de realizadores prolíficos e aclamados pela crítica como Annemarie Jacir, Mai Masri, Mahdi Fleifel, Susan Youssef, May Odeh, Farah Nabulsi e muitos mais, a colecção é um tributo à criatividade e paixão da indústria cinematográfica árabe, uma vez que a Netflix continua a investir em histórias do mundo árabe», diz a Netflix no seu comunicado.

A colecção apresenta uma série de filmes premiados ou nomeados para prémios. Like 20 Impossibles, de Annemarie Jacir, foi a primeira curta-metragem do mundo árabe a estrear em Cannes, tendo sido Finalista Nacional para os Óscares, bem como vencedor do prémio de Melhor Filme nos festivais de Palm Springs, Chicago, IFP/Nova Iorque, Nantucket e Mannheim-Heidelberg. A Intervenção Divina, de Elia Suleiman, garantiu duas vitórias e uma nomeação em Cannes enquanto 3000 Noites, de Mai Masri, ganhou o Prémio do Júri no Festival Internacional de Cinema e Fórum sobre Direitos Humanos de 2016. Alguns dos filmes, tais como Present, Pomegranates and Myrrh e It Must be Heaven estão ainda em exibição.

O realizador palestino, Ameen Nayfeh, diz que se sentiu orgulhoso depois de ter dado vida, através do cinema, à sua luta pessoal de atravessar um posto de controlo militar israelita para visitar o seu avô moribundo. Mas não esperava que a sua curta-metragem The Crossing tivesse um vasto público, confessou o realizador de 33 anos à Reuters.

«É por isso que fazemos filmes, porque queremos que as nossas histórias viajem, queremos que as pessoas saibam sobre nós», disse Nayfeh. «Agora, quando escrever Palestina na caixa de pesquisa da Netflix, haverá muitos títulos diferentes que pode ver. Antes, quando procurava Palestina, só obtinha títulos israelitas».

May Odeh, o produtor de The Crossing, disse: «Estou contente por finalmente ter filmes palestinos alternativos acessíveis a um vasto público através da Netflix. Todos nós, na indústria cinematográfica palestina, temos estado ansiosos por poder partilhar a nossa narrativa com o mundo através das nossas autênticas produções criativas como uma alternativa à reportagem noticiosa.»

Huda Al-Imam, actriz do filme Ave Maria, que também consta da colecção palestina da Netflix, disse que iria expandir o alcance das histórias palestinas. «Agora, graças à Netflix, as histórias palestinas e a vida palestina com a sua beleza e sofrimento serão mostradas em todo o mundo.»

Nuha Eltayeb, Directora de Aquisição de Conteúdos (Médio Oriente, Norte de África e Turquia) da Netflix declarou à Reuters: «A diversificação do nosso conteúdo é-me muito cara, pois a Netflix trabalha para se tornar a casa do cinema árabe, um lugar onde qualquer pessoa em qualquer parte do mundo pode aceder a grandes histórias árabes.»

«Acreditamos que as grandes histórias viajam para além do seu local de origem, são contadas em diferentes línguas e apreciadas por pessoas de todas as condições e, com a colecção de «Histórias Palestinas», esperamos levar estas belas histórias a um público global. Embora estas histórias sejam distinta e autenticamente árabes, os temas são quintessencialmente humanos, e terão eco nas audiências de todo o mundo. Esta é a verdadeira beleza de contar histórias.»

A iniciativa da Netflix tem merecido um aplauso generalizado e, nos últimos anos, têm crescido os elogios aos filmes palestinos junto das audiências ocidentais.

No artigo de opinião «Why Biden Must Watch This Palestinian Movie» publicado no New York Times, em 27 de Abril passado. John Brennan, que foi director da CIA entre 2013 e 2017, recomenda ao presidente dos Estados Unidos que veja o filme The Present: «A administração Biden está a lidar com uma série vertiginosa de problemas nacionais e internacionais, mas a demanda palestina de um Estado merece o envolvimento precoce da sua equipa de segurança nacional. Os Estados Unidos precisam de dizer aos líderes israelitas para cessarem a construção provocatória de colonatos e o tipo de práticas de segurança opressivas descritas em The Present.»

Por outro lado, algumas figuras pró-Israel e grupos sionistas de direita, citados pelo magazine digital TRT World, atacaram a decisão da Netflix de promover as vozes palestinas.

O Im Tirtzu, um grupo de extrema-direita, disse que 25 dos 28 filmes da colecção foram realizados por apoiantes do boicote a Israel, e 16 dos 19 realizadores eram pró-BDS (Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções).

O grupo sionista – que um tribunal israelita considerou que «alguns dos atributos do Im Im Tirtzu têm certas semelhanças com o fascismo» – ligou ainda doze dos realizadores a uma carta aberta publicada em Maio intitulada «A Letter Against Apartheid» (Uma Carta Contra o Apartheid), que acusava o governo israelita de ter cometido um massacre em Gaza e de proteger ou mesmo encorajar os assassinatos, intimidações e despossessão violenta dirigidos contra palestinos por soldados e civis israelitas armados.

O CEO do Im Tirtzu, Matan Peleg, declarou que era «vergonhoso que a Netflix apresente filmes de propaganda dirigidos por apoiantes do BDS, cujo único objectivo é difamar e deslegitimar a única democracia no Médio Oriente».


É a seguinte a lista dos filmes agora disponibilizados na colecção «Histórias Palestinas» da Netflix:

200 Meters (200 Metros), de Ameen Nayfeh
3 Logical Exits (3 Saídas Lógicas), de Mahdi Fleifel
3000 Nights (3000 Noites), de Mai Masri
A Drowning Man (Um Homem a Afogar-se), de Mahdi Fleifel
A Man Returned (Um Homem Regressado), de Mahdi Fleifel
A World Not Ours (Um Mundo Que Não É o Nosso), de Mahdi Fleifel
Ave Maria, de Basil Khalil
Bonbone, de Rakan Mayasi
Children of Shatila (Crianças de Chatila), de Mai Masri
Chronicle of a Disappearance (Crónica de Um Desaparecimento), de Elia Suleiman
Condom Lead (Preservativo de Chumbo), de Arab and Tarzan Nasser
Divine Intervention (Intervenção Divina), de Elia Suleiman
Frontiers of Dreams and Fears (Fronteiras dos Sonhos e dos Medos), de Mai Masri
Ghost Hunting (Caça aos Fantasmas), de Raed Andoni
Giraffada, de Rani Massalha
Ibrahim a Fate to Define (Ibrahim, Um Destino por Definir), de Lina Alabed
It Must Be Heaven (O Paraíso Deve Ser Aqui), de Elia Suleiman
In Vitro, de Larissa Sansour e Søren Lind
Like 20 Impossibles (Como 20 Impossíveis), de Annemarie Jacir
Maradona’s Legs (As Pernas de Maradona), de Firas Khoury
Mars at Sunrise (Marte ao Amanhecer), de Jessica Habie
Omar, de Hany Abu Assad
Paradise Now (Paraíso Agora), de Elia Suleiman
Pomegranates and Myrrh (Romãs e Mirra), de Najwa Najjar
Salt of this Sea (O Sal deste Mar), de Annemarie Jacir
Samouni Road (A Estrada de Samouni), de Stefano Savona
The Crossing (A Passagem), de Ameen Nayfeh
The Present (O Presente), de Farah Nabulsi
The Wanted 18 (As 18 Fugitivas), de Amer Shomali e Paul Cowan
Wajib (Um Convite de Casamento), de Annemarie Jacir
When I Saw You (Quando Te Vi), de Annemarie Jacir
Xenos, de Mahdi Fleifel

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