«Nakba – 75 Anos», por Jorge Fonseca de Almeida

Faz hoje, dia 15 de Maio, 75 anos que centenas de milhares de palestinos, simples e pacíficos camponeses, muçulmanos e cristãos, ricos e pobres, proprietários e assalariados, foram arrancados das suas casas, expulsos das suas terras e sob ameaça armada obrigados a fugir. Formaram-se longas filas de pessoas, a pé, em carroças, nos poucos carros que dispunham a caminho do exílio. Hoje formam a maior comunidade de refugiados do mundo, contando-se mais de 5 milhões de palestinos em campos de refugiados localizados nos países vizinhos da Palestina.

É a única comunidade refugiada que pelo seu tamanho tem uma agência das Nações Unidas dedicada exclusivamente a tratar dos seus problemas - a UNRWA que apesar dos poucos fundos de que dispõe tem feito um trabalho notável. Recentemente o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres visitou uma escola da UNRWA no Líbano onde pediu à comunidade palestina para "Não perder a esperança".

Após a expulsão dos palestinos, os sionistas arrasaram as casas, cortaram as oliveiras e entregaram os terrenos a colonos recentemente chegados aos territórios a que agora chamavam Israel, substituindo a antiga designação de Palestina, a terra onde Jesus Cristo nasceu, cresceu e morreu.

Para os palestinos esta foi uma grande Catástrofe, palavra que em árabe se diz Nakba. Aí começou uma luta pelo retorno às suas terras e casas. Muitas famílias palestinas guardam as chaves das suas antigas casas como símbolo da sua vontade, da esperança que António Guterres lhes pede que não abandonem, de regressar à sua terra natal e voltar a plantar as oliveiras.

Israel, entretanto, tornou-se no que várias organizações americanas e europeias, como a Human Rights Watch (HRW) e a Amnistia Internacional, designam como um Estado de apartheid, discriminando os árabes, cristãos e muçulmanos, e até alguns judeus que não conseguem provar a sua ascendência por via materna.

A norte-americana Human Rights Watch, porventura a mais conhecida organização de defesa dos direitos humanos do mundo, escreve num extenso e minucioso relatório que as "autoridades israelitas privilegiam sistematicamente os judeus israelitas e discriminam contra os palestinos" e concluem que Israel viola os sistematicamente direitos civis dos palestinos ao ponto de considerarem Israel um regime de "apartheid" semelhante ao odioso regime da África do Sul do tempo da supremacia branca (ver aqui).

Sendo em geral a HRW muito alinhada com a política externa americana, a sua posição desalinhada com as posições oficiais desse país no que toca à Palestina, é sinal evidente de que a situação é tão grave que seria insustentável uma posição de apoio ou de simples condescendência ao apartheid sionista.

No mesmo sentido se pronuncia a Amnistia Internacional que também elaborou um relatório detalhado sobre as práticas de violação sistemática dos direitos humanos, levada a cabo por Israel (ver aqui).

Neste dia triste, em que se assinala o início de uma longa provação, de 75 anos, a que o povo palestino continua sujeito, lembro que não está só. Pelo contrário, a Assembleia das Nações Unidas tem aprovado sucessivas moções de apoio à sua causa, exigido a Israel que retire dos territórios ocupados, que reconheça os direitos dos palestinos que vivem em Israel, e que permita o regresso dos refugiados e seus descendentes às suas terras e aldeias.

Junto-me a António Guterres quando apela à esperança. E como ele, na modesta escola da UNRWA num campo de refugiados palestinos no Líbano, quero deixar uma palavra de solidariedade e de apoio à solução de dois Estados defendida pelas principais organizações palestinas. O Estado de Israel já existe. O da Palestina tarda. É tempo de resolver definitivamente esta injusta situação.


Jorge Fonseca de Almeida é Economista e membro da Direcção Nacional do MPPM


Este artigo foi originalmente publicado na edição digital do Diário de Notícias em 15 de Maio de 2023


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