Na Cisjordânia ocupada, Israel aprova a construção de 715 casas para palestinos, 6000 para colonos

Israel aprovou a construção na Área C da Cisjordânia ocupada de 715 unidades habitacionais para palestinos e de 6000 casas para colonos israelitas.

O gabinete de segurança de Israel aprovou por unanimidade na terça-feira, 31 de Julho, as licenças de construção para 715 unidades habitacionais em localidades palestinas na Área C da Cisjordânia ocupada.

O gabinete de segurança aprovou também a construção de 6000 casas em colonatos israelitas (ilegais à luz do direito internacional) na mesma Área C, que segundo os Acordos de Oslo está sob controlo total de Israel.

Em resposta à decisão israelita, o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayeh, afirmou esta quarta-feira, num comunicado citado pela agência Ma'an, que as áreas A, B e C já não existem porque Israel violou o Acordo Interino de Oslo, e «nós não precisamos de autorização da potência ocupante para construir as nossas casas no nosso território».

O primeiro-ministro palestino apontou que esta pequena autorização visa enganar a opinião pública internacional, legitimar os colonatos e tentar equiparar a construção pelos palestinos na sua terra com a colonização israelita.

Trata-de da primeira autorização por Israel de licenças de construção desde 2016 para os palestinos na área C, a qual representa mais de 60% da Cisjordânia ocupada, que segundo a chamada solução dos dois Estados fará parte de um futuro Estado palestino. Inversamente, Israel destrói sistematicamente edificações palestinas que considera «ilegais» na Cisjordânia ocupada.

«Uma farsa», é como a organização israelita Peace Now, que monitoriza a colonização israelita nos territórios palestinos ocupados, classifica a decisão de Israel de autorizar a construção de 715 casas para os palestinos.

Entre 2009 a 2016, informa a Peace Now, Israel autorizou a construção de 66 edifícios para os palestinos (de um total de 3365 pedidos), ao mesmo tempo que aprovou o início da construção de 12 763 alojamentos para os colonos judeus. Segundo a organização, vivem na Área C da Cisjordânia ocupada entre 200 000 e 300 000 palestinos, e algumas centenas de casas não bastarão para atender às necessidades da população.

O facto de a decisão ter sido aprovada  por unanimidade pelo gabinete de segurança de Israel confirma que não se trata de um gesto de boa vontade, mas antes de um passo para afastar os  palestinos de zonas nas quais Israel quer expandir colonatos, comentou Walid Assaf, presidente da Comissão palestina contra o Muro e os Colonatos, citado pelo jornal israelita Haaretz.

«Sabemos que as licenças [de construção] são destinadas a palestinos que residem na Área C, e portanto é óbvio», afirmou ele, «que a medida pretende preparar o terreno para a transferência de palestinos de outras áreas [da Cisjordânia ocupada] e especialmente da área E1, antes de anexar a Área C.»

A área E1 permitiria estabelecer uma continuidade entre Jerusalém e Ma’ale Adumim, o maior dos colonatos israelitas ilegais na Cisjordânia ocupada, cortar a contiguidade territorial da Cisjordânia e impossibilitar que Jerusalém Oriental se viesse a tornar a capital de um futuro Estado palestino.

Assaf acrescentou que Israel usaria esta sua decisão de atirar migalhas aos palestinos para uma campanha de relações públicas, após as duras críticas que sofreu após a demolição, há uma semana, de dezenas de casas no bairro de Wadi Hummus, numa parte de Jerusalém Oriental sob controlo palestino.

Quaisquer dúvidas sobre o real objectivo da medida são desfeitas pelo ministro israelita dos Transportes, o político de extrema-direita Bezalel Smotrich.

Smotrich, que recentemente se queixou da apropriação pelos palestinos da Área C da Cisjordânia ocupada (!), confirmou que a medida faz parte de um plano para alargar a soberania israelita na Cisjordânia. O plano estratégico de Israel, afirmou Smotrich no Facebook na terça-feira, inclui a proibição de construção para os palestinos que se mudaram para cidades e aldeias designados Área C depois dos Acordos de Oslo de 1994.

Quanto aos «moradores originais», só poderiam construir em lugares «que não prejudiquem os colonatos e a segurança de Israel e não criem continuidade [palestina] ou criem uma situação de um Estado palestino de facto». Smotrich acrescenta que esses locais serviriam os «interesses estratégicos do Estado de Israel» e não os «interesses nacionais dos árabes».

Por seu lado, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, quis desfazer dúvidas e a oposição dos sectores mais radicais do movimento dos colonos às licenças para novas construções palestinas. Tal como já tinha feito anteriormente, nesta quarta-feira prometeu que sob o seu comando nenhuma casa dos colonatos da Cisjordânia ocupada será demolida.

«Nenhum colonato nem colono será desalojado. Isso acabou», declarou Netanyahu durante uma visita ao colonato de Efrat, a sul de Belém. «O que vocês estão a fazer aqui é para sempre.»

Foto: AsiaNews

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