Mahmoud Abbas na ONU: «Jerusalém não está à venda e os direitos do povo palestino não são negociáveis»

O presidente da OLP e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, usou hoje da palavra na Assembleia Geral da ONU. Ainda antes das saudações protocolares, iniciou o seu discurso com a afirmação de que «Jerusalém não está à venda e os direitos do povo palestino não são negociáveis».
O dirigente palestino recordou que foi mandatado pelo Conselho Nacional Palestino para rever os acordos — políticos, económicos e de segurança — com Israel e rever o futuro da Autoridade Nacional Palestina, «que infelizmente foi tornada sem autoridade». Além disso, o CNP também lhe deu instruções para «suspender o reconhecimento do Estado de Israel pelos palestinos até que Israel por sua vez reconheça os Estado da Palestina nas fronteiras de 4 de Junho de 1967».
A propósito das manobras em torno da capital palestina, Abbas foi muito claro: «A paz na nossa região não pode ser realizada sem um Estado palestino independente, com Jerusalém Oriental como sua capital e com todos os locais sagrados.» E precisou: «A nossa capital é Jerusalém Oriental e não em Jerusalém Oriental.»
O presidente da OLP mencionou o problema actual da destruição iminente da aldeia de Khan al-Ahmar, afirmando que ao destruir esta aldeia, Israel «está a destruir a unidade da Cisjordânia», que será «dividida em norte e sul».
Abbas reafirmou a recusa dos EUA como mediador único das negociações entre os palestinos e Israel, «porque são demasiado tendenciosos a favor de Israel», e condenou a decisão do presidente Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, de transferir para esta cidade a embaixada estado-unidense, de fechar os escritórios da OLP em Washington e retirar o financiamento à da UNRWA, a agência de da ONU de assistência aos refugiados palestinos.
Afirmou ainda que com as suas decisões a presente administração estado-unidense «renegou todos os compromissos anteriores dos EUA e minou a solução de dois Estados» e apelou para que o presidente Trump rescinda as suas decisões sobre Jerusalém, os refugiados e os colonatos.
O presidente da Autoridade Palestina criticou severamente a «lei do Estado-nação» recentemente aprovada pelo parlamento israelita. Discriminando os cidadãos árabes palestinos em Israel, concedendo o direito à autodeterminação em Israel exclusivamente aos judeus, a lei legaliza a discriminação contra os cidadãos árabes, que constituem 20% da população de Israel, e também contra outros não-judeus que emigraram para Israel. «Esta lei», afirmou, «nega a ligação do povo palestino à sua pátria histórica e descarta o seu direito à autodeterminação e a sua história e património, bem como as resoluções das Nações Unidas relevantes para a questão palestina e os acordos concluídos com Israel. Esta lei conduzirá inevitavelmente à criação de um Estado racista, um Estado de apartheid, e anulará a solução de dois Estados.»
Mahmoud Abbas referiu-se também à questão dos refugiados, denunciando a tentativa da administração estado-unidense de reduzir artifialmente o seu número para 40 000 e reafirmando a centralidade da questão dos refugiados: «em 13 milhões [de palestinos] temos seis milhões de refugiados».
O líder palestino apelou ao reconhecimento do Estado da Palestina pelos países que ainda não o fizeram, exortando-os a não reconhecerem só um dos Estados e recordando: «Há 705 resoluções emitidas pela Assembleia Geral desde 1947 até hoje e 86 resoluções do Conselho de Segurança desde 1948 até o momento. Nem uma só foi aplicada por Israel.»
Declarando que a ajuda humanitária, aliás negada pelos Estados Unidos, não pode substituir uma solução políica, Abbas sublinhou que está sempre aberto a negociar mas que o objectivo é o direito à autodeterminação dos palestinos.

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