Israel bombardeia Gaza há 10 dias

Pela décima noite consecutiva Israel sujeitou a Faixa de Gaza a bombardeamentos pela artilharia e pela aviação. Embora haja vários feridos, não se registaram, até ao momento, vítimas mortais. No entanto, foram causados avultados danos materiais e há um pânico generalizado na população.

Israel argumenta que está a retaliar ao envio de balões incendiários, a partir da Gaza, para povoações israelitas vizinhas e alega que só está a atacar alvos do Hamas. No entanto, estão documentados danos em habitações e até numa escola da UNRWA.

O Hamas acusa Israel de não ter cumprido as condições do cessar-fogo acordado no ano passado, com mediação das Nações Unidas, do Egipto e do Qatar, que estipulava que Israel abrandaria o bloqueio à Faixa de Gaza e facilitaria a realização de projectos de reconstrução e de investimento, capazes de relançar a muito debilitada economia da região. Mas Israel, que acusa o Hamas de ser uma organização terrorista, nunca reconheceu publicamente a trégua e foge a negociações directas.

O Egipto e o Qatar estão a tentar mediar um acordo de cessar-fogo entre o Hamas, Israel e a Autoridade Palestina.

Recorde-se que o tão saudado acordo de “normalização” entre os Emirados Árabes Unidos e Israel é totalmente omisso no que respeita à situação na Faixa de Gaza.

Punição colectiva

Israel complementou as operações militares com outras medidas que afectam dramaticamente a vida dos dois milhões de habitantes da faixa de Gaza, mais de metade dos quais vive abaixo do limiar da pobreza.

Na quarta-feira, 12, Israel reduziu a área autorizada de pesca na costa de Gaza de 15 para 8 milhas (24 para 13 km), e no domingo, 16, interditou totalmente a pesca. A marinha israelita assegura o cumprimento da determinação alvejando qualquer barco que saia para o mar. Os pescadores perdem, assim, o seu único meio de sustento.

Na terça-feira, 11, Israel fechou a passagem Karem Abu Salem por onde se faz a importação de mercadorias do Egipto para a Faixa de Gaza. Este fecho penaliza especialmente a importação de materiais de construção e de combustível.

Quatro horas de electricidade por dia

A Faixa de Gaza recebe energia eléctrica da rede de Israel e da sua própria central. Habitualmente, tem energia durante 8 horas, seguida de uma interrupção de 16 horas.

Com o boicote ao abastecimento de combustível imposto por Israel, a única central eléctrica de Gaza cessou a operação, pelo que o território está dependente, exclusivamente, da energia fornecida por Israel que fica limitada a quatro horas diárias.

Habitações, empresas e hospitais recorrem a geradores para suprir a falta de energia da rede, agravando os custos da electricidade para uma população empobrecida.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha alertou para as consequências da paragem da única central de Gaza para os hospitais e para o fornecimento de água, podendo agravar os problemas ambientais.

Recém-nascidos com sobrevivência ameaçada

Nest quarta-feira, o director da Rede Neonatal de Gaza, Nabil al-Baraqoun, alertou que as frequentes interrupções de fornecimento de electricidade põem em risco a vida dos 120 recém-nascidos que estão em incubadoras nos cuidados intensivos dos hospitais de Gaza.

Segundo ele, as fontes alternativas de energia – geradores e solar – não são suficientes para assegurar a adequada operação das 135 incubadoras, além de que as constantes quebras de fornecimento causam danos aos equipamentos médicos, como incubadoras, equipamentos de ressuscitação e ventiladores, que podem ter consequências fatais se falharem quando necessários.

Doze anos de bloqueio

A Faixa de Gaza está sujeita a um bloqueio imposto por Israel e pelo Egipto desde 2007, na sequência da vitória do Hamas em eleições que observadores internacionais consideraram unanimemente terem sido livres e justas.

Embora tenha retirado os seus colonos do território em 2005, Israel mantém uma ocupação virtual, com um controlo cerrado dos acessos por terra, mar e ar, e frequentes incursões militares. No entanto, não assume a responsabilidade de potência ocupante no que respeita ao bem-estar da população ocupada.

O bloqueio afunda a economia de Gaza, asfixia a vida quotidiana dos habitantes, geral uma espiral de desemprego e pobreza, e isola a população do resto da palestina ocupada e do mundo.

Dois em cada três palestinos em Gaza são refugiados do território ocupado pelo Estado de Israel, mas este não lhes reconhece o direito de retorno às sua casas e propriedades, ao contrário do que acontece com judeus de qualquer parte do mundo sem qualquer ligação à Palestina.

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