História e Cultura da Palestina em Vila Franca de Xira

Numa organização conjunta do MPPM e da Cooperativa Alves Redol realizou-se, no dia 21 de Maio, nas instalações do Clube Vilafranquense, uma concorrida sessão pública em que foi evocada a vida e obra do poeta palestino Mahmud Darwich e se falou da história e da luta do povo da Palestina.
Arlindo Gouveia, Presidente da Cooperativa Alves Redol, enunciou os três objectivos que presidiram à realização desta sessão: cultural, informativo e de solidariedade com “o povo oprimido, humilhado e maltratado da Palestina”. Porque, afirmou, “Vila Franca tem tradição de solidariedade com os mais desfavorecidos, e a solidariedade também tem que ser internacionalista”.
Júlio de Magalhães, investigador em assuntos árabes e membro da Direcção do MPPM, traçou a biografia de Mahmud Darwich, desde o seu nascimento, na Galileia em 1941, até ao seu falecimento, nos Estados Unidos, em 2008. Apresentou Darwich como uma das três grandes figuras da cultura palestina do séc. XX, juntamente com o pintor Ismaïl Shamut e o académico Edward Said. Mahmud Darwich, poeta, ensaísta, prosador, jornalista e político, combatente da resistência palestina ao longo de toda a sua vida foi, para Júlio de Magalhães, “a consciência do povo palestino”. Na segunda parte da sua intervenção passou em revista os oito períodos da obra literária de Mahmud Darwich.
Paulo Rato ilustrou a intervenção de Júlio de Magalhães com a leitura dos poemas “Bilhete de Identidade”, “O Morto nº 18”, “Estrangeiro em Terra Distante”, “A Terra É Estreita Para Nós”, “O Mural” (excertos) e “À Minha Mãe”.
José Manuel Goulão, jornalista e escritor e membro da Comissão Executiva do MPPM, situou a sua intervenção entre dois momentos históricos: em 1922, a Palestina ficou sob Mandato Britânico “até que os Palestinianos estivessem em condições de se governar”; recentemente, em Washington, Benjamin Netanyahu rejeita a possibilidade de criação de um Estado Palestiniano porque “os palestinianos não estão em condições de se governar”. Entre um momento e outro, ocorreu uma verdadeira limpeza ética na Palestina, “porque os Palestinianos não se sabem governar”. Abordou em seguida o fenómeno – que diz ser muito ignorado – da colonização por Israel dos territórios ocupados na sequência da Guerra dos Seis Dias, em 1967: Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Recordou que as Convenções de Genebra estipulam que os territórios ocupados numa guerra, não podem ser objecto de alterações demográficas por parte da potência ocupante. Mas, os colonatos que Israel tem vindo a construir nos territórios ocupados, bem como todas as estruturas que os rodeiam, com a destruição de casas e culturas, inviabilizam o modo de vida das populações dos territórios ocupados, promovendo a sua expulsão e substituição pelos colonos judeus.
Paulo Rato, Júlio de Magalhães, José Manuel Goulão e Arlindo Gouveia em Vila Franca de XiraEvocou, de seguida, o papel relevante que Yasser Arafat teve na unificação da resistência palestiniana e a forma como soube manter-se independente das mais diversas influências, até à sua morte, em condições tornadas ainda mais suspeitas depois de vir a público o plano Dagan, dos serviços secretos israelitas, em que estava previsto o seu assassinato bem como uma série de outras ocorrências, que se verificaram ao detalhe. Os ataques ao Líbano, em 1982, com os massacres da Sabra e Shatila e a quase total destruição de Beirute Ocidental, acordaram algumas consciências israelitas, como é testemunhado no filme “A Valsa com Bashir”. A grande força da “revolta das pedras” (a Intifada), iniciada em 1987, em Gaza e depois alargada à Cisjordânia, por sua vez, terá convencido Itzahk Rabin da necessidade de negociar, levando-o a assinar os Acordos de Oslo, mas criando, com isso, na direita israelita mais radical, o ambiente que levou ao seu assassinato.
Considera Goulão que, na sua visita aos Estados Unidos, Natanyahu colocou Obama entre a espada e a parede: enquanto Obama pretende a construção do Estado palestiniano como forma de atrair os países árabes para uma frente contra o Irão, Netanyahu insiste que a prioridade é combater o Irão e que, aos palestinianos, basta melhorar a sua condição económica, relegando a construção do Estado para segunda prioridade. Para Goulão, a política de facto consumado praticada por Israel, com a expansão dos colonatos, a destruição de casas, a construção do Muro, tudo isso torna a vida nos territórios um inferno e inviabiliza a construção do estado palestiniano enquanto a comunidade internacional vai falando de acordos de Paz. O que se passa na Palestina, em que Israel é considerado um farol da democracia no Médio Oriente, ao mesmo tempo que a comunidade internacional se recusa a aceitar o resultado de eleições consideradas legítimas por todos os observadores internacionais, só porque não deram o resultado esperado, é, para José Manuel Goulão, “a forma suprema da hipocrisia, a hipocrisia sangrenta.
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