Fatah e Hamas concordam em realizar eleições na Palestina dentro de seis meses

O Hamas e a Fatah concordaram em realizar as primeiras eleições gerais na Palestina em quase 15 anos.

Após uma reunião na Embaixada da Palestina em Istambul, foi emitido um comunicado de imprensa que confirmou que as duas maiores facções palestinas tinham alcançado «uma visão unificada».

«Concordamos que a visão amadureceu e planeamos avançar com um diálogo a nível nacional com a participação de todas as facções sob o patrocínio do Presidente Mahmoud Abbas, a ter lugar antes do dia 1 de Outubro», diz a declaração.

As eleições parlamentares e presidenciais serão agendadas no prazo de seis meses, ao abrigo de um entendimento acordado por Mahmoud Abbas, líder da Fatah e da Autoridade Palestiniana (AP), e pelo chefe do Hamas, Ismail Haniyeh.

O chefe adjunto do gabinete político do Hamas, Saleh Al-Arouri, confirmou: «Teremos eleições legislativas, seguidas de eleições presidenciais e depois eleições para o Conselho Nacional Palestino onde for possível.»

«Concordámos em realizar primeiro eleições legislativas, depois eleições para a presidência da Autoridade Palestina, e finalmente para o conselho central da Organização para a Libertação da Palestina», disse ontem Jibril Rajoub, um alto funcionário da Fatah.

Tanto da parte da Fatah como do Hamas, sucedem-se as manifestações de satisfação pelo acordo alcançado.

Saleh al-Arouri, um alto quadro do Hamas, em declarações à AFP, disse: «Desta vez chegámos a um verdadeiro consenso (…) As divisões prejudicaram a nossa causa nacional e estamos a trabalhar para pôr fim a isso.»

O Primeiro-Ministro da AP, Mohammad Shtayyeh, afirmou: «Saudamos a atmosfera positiva que envolveu o diálogo nacional entre a Fatah e o Hamas que se teve lugar em Istambul, durante dois dias, e em que concordaram em realizar eleições gerais.»

Mahmou Abbas na ONU

O Presidente Mahmoud Abbas, na sua intervenção 75ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, disse: «Aqui estamos nós, apesar de todos os obstáculos que conhecem demasiado bem, a preparar-nos para realizar eleições parlamentares, seguidas de eleições presidenciais, com a participação de todas as facções e partidos políticos».

No que pode ser entendido como uma resposta aos apelos para que os palestinos retomme as negociações, Mahmoud Abbas exortou o Secretário-Geral das Nações Unidas a empreender, em cooperação com o Quarteto e o Conselho de Segurança, preparativos para convocar uma conferência internacional com a participação de todas as partes interessadas, a fim de se empenharem num verdadeiro processo de paz, no início do próximo ano e com base no direito internacional, nas resoluções da ONU e nos termos de referência relevantes.

Afirmou que um verdadeiro processo de paz deveria conduzir ao fim da ocupação e à conquista pelo povo palestino da sua liberdade e independência dentro do seu Estado, com Jerusalém Oriental como capital, nas fronteiras de 1967, e à resolução de todas as questões relativas ao estatuto final, nomeadamente a questão dos refugiados, com base na resolução 194.

Tempo de cerrar fileiras

As últimas eleições parlamentares palestinas realizaram-se em 2006 e deram ao Hamas uma vitória esmagadora.

Mas o governo de unidade formado entre o Hamas e a Fatah teve curta duração e as divergências entre as duas principais facções palestinas agudizaram-se desde então, com o Hamas a governar Gaza, enquanto a Fatah dirige a Autoridade Palestina, com sede em Ramala, na Cisjordânia ocupada. As numerosas tentativas de reconciliação até agora realizadas, têm sido infrutíferas.

Estas conversações na Turquia vêm depois de Abbas ter pedido ao Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, para apoiar os esforços de reconciliação palestinos com o objectivo de avançar para eleições gerais.

Vêm também num esforço de cerrar fileiras palestinas perante a ameaça do Plano Trump – Netanyahu para a Palestina e dos acordos de «normalização» entre países árabes e Israel (Emirados Árabes Unidos e Barém, até à data), que vieram romper os pressupostos da Iniciativa Árabe de Paz de que nenhuma normalização entre Israel e os países árabes é possível sem uma solução justa para o conflito israelo-palestino e o estabelecimento de um Estado palestino independente.

Na imagem: Mulher palestina deposita o seu voto na cidade de Gaza, nas eleições de 2006 (Foto: Reuters)

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