EUA cessam totalmente o financiamento à agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos

O governo dos Estados Unidos anunciou hoje, 31 de Agosto, que punha fim ao financiamento da UNRWA, a agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos no Médio Oriente.
No seu comunicado, o governo de Trump criticou a UNRWA pelo seu «modelo de negócio insustentável e defeituoso e as suas práticas fiscais». A «comunidade infinita e exponencialmente crescente de beneficiários da UNRWA é simplesmente insustentável e está em modo de crise há muitos anos. […] A administração reviu cuidadosamente a questão e determinou que os Estados Unidos não farão mais contribuições para a UNRWA».
As autoridades palestinas criticaram duramente esta decisão dos EUA. «As consecutivas decisões americanas representam um ataque flagrante contra o povo palestino e um desafio às resoluções da ONU», declarou Nabil Abu Rdainaho, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. «Tal punição não conseguirá mudar o facto de que os Estados Unidos já não têm um papel na região e de que não fazem parte da solução.»
Os EUA foram historicamente o maior doador da agência, mas o governo de Donald Trump já tinha reduzido o seu financiamento à UNRWA nos territórios palestinos ocupados de 365 milhões de dólares para apenas 65 milhões.
A UNRWA foi fundada em 1949 para dar assistência aos mais de 750.000 palestinos vítimas da limpeza étnica levada a cabo pelas forças sionistas antes e depois da criação de Israel. Actualmente presta assistência a cinco milhões de refugiados palestinos na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza, bem como na Jordânia, no Líbano e na Síria.
Os cortes drásticos no financiamento estado-unidense, que não foi compensado pelo aumento dos contributos de outros países, vai necessariamente traduzir-se num agravamento da situação já de si dramática dos refugiados, muitos dos quais dependem da UNRWA para sobreviver. Assim acontece nomeadamente na Faixa de Gaza, onde três quartos da população são refugiados. Mas o mesmo se aplica ao Líbano e à Jordânia, que se verão a braços com enormes dificuldades para enfrentar a redução do financiamento destinado à alimentação, educação e saúde dos milhões de refugiados palestinos que acolhem. E será particularmente terrível o destino dos refugiados palestinos na Síria, muitos dos quias novamente deslocados em consequência da guerra neste país.
Esta decisão — que surge uma semana depois de os EUA anunciarem que também iam cortar mais de 200 milhões de dólares de ajuda aos palestinos, sobretudo destinada a projectos na Cisjordânia ocupada — deve ser lida em paralelo com a exigência estado-unidense de uma nova definição da condição de refugiado plestino, que conduziria à redução do seu número para 10% dos actuais cinco milhões. E, naturalmente, vem na sequência do reconhecimento pelos EUA de Jerusalém como capital de Israel e da transferência para aí da sua embaixada.
Ao «retirarem da mesa» das negociações Jerusalém e os refugiados, dois aspectos centrais, ao mesmo tempo que os seus representantes se desdobram em declarações e actos de apoio aos colonos e à colonização, os Estados Unidos não deixam dúvidas sobre o conteúdo do seu propalado «acordo do século» para a solução da questão israelo-palestina: a rejeição da solução dos dois Estados, que constitui o consenso internacional; o alinhamento total com as posições do governo de Netanyahu, o mais direitista da história de Israel; e a imposição aos palestinos da renúncia total aos seus direitos nacionais, aceitando para sempre uma situação de submissão, ocupação e apartheid.

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