Estados Unidos colocam consulado para palestinos sob alçada da recém-transferida embaixada em Jerusalém

Os Estados Unidos decidiram que o seu consulado em Jerusalém Oriental, que estava encarregado das relações com os palestinos, passará a funcionar como Unidade de Assuntos Palestinos da embaixada estado-unidense em Israel, quando estiver concluída a ilegal transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém, em Maio de 2019.
O Departamento de Estado alega que isso permitirá «eficiências significativas». Porém, ao diminuir o estatuto do consulado, que era a sua principal missão diplomática junto dos palestinos, a medida tem evidente significado político, rebaixando ainda mais as relações entre os EUA e o governo da Autoridade Palestina.
Embora o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, tenha insistido que esta medida não indicava uma mudança de política em relação aos palestinos, o facto é que ela surge na sequência do fecho pelos EUA, em Setembro passado, da missão da Autoridade Palestina em Washington.
Durante anos o consulado serviu como uma embaixada de facto junto dos palestinos, directamente subordinada ao Departamento de Estado. Colocá-lo sob a autoridade da embaixada em Israel implica de modo evidente o reconhecimento pelos EUA do controlo israelita sobre Jerusalém Oriental e a Cisjordânia ocupadas.
Para mais, quem ficará a presidir ao consulado para os palestinos será o embaixador estado-unidense em Israel, David Friedman, conhecido pelos seus pontos de vista de extrema-direita, pelo financiamento do colonato ilegal de Beit El, na Cisjordânia ocupada, e pelo seu papel no reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel.
As relações entre os palestinos e os EUA deterioram-se após o presidente Donald Trump decidir transferir a embaixada dos Estados Unidos em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e reconhecer esta cidade como capital de Israel.
A decisão estado-unidense de reconhecer Jerusalém como capital de Israel e de transferir para aí a embaixada, que representou uma ruptura com a política seguida há décadas pelos EUA, viola o direito internacional e numerosas resoluções da ONU, nomeadamente a resolução 2334 do Conselho de Segurança, de Dezembro de 2016, que menciona explicitamente Jerusalém Oriental como «território palestino ocupado». Além disso, põe em causa a solução dos dois Estados e a reivindicação palestina de Jerusalém Oriental como capital do futuro Estado palestino.
Protestando contra a decisão de fechar o consulado, Saeb Erekat, secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina, afirmou que se trata de uma prova de que a administração de Trump «adoptou totalmente a narrativa israelita», acrescentando que a «administração Trump está a deixar claro que está a trabalhar juntamente com o governo israelita para impor o Grande Israel, em vez da solução de dois Estados nas fronteiras de 1967».

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