A dois dias das eleições, Netanyahu reúne governo israelita em colonato ilegal no Vale do Jordão

«As forças armadas de Israel estarão aqui para sempre», declarou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, durante uma reunião do seu governo no Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada. 
 
Realizando a última reunião do governo israelita antes das eleições da próxima terça-feira — e a primeira nos territórios palestinos ocupados desde há duas décadas —, Netanyahu quis reforçar a mensagem de que, se vencer as eleições, Israel anexará o Vale do Jordão e todos os colonatos israelitas, ilegais à luz do direito internacional.
 
A reunião do governo israelita, realizada numa tenda adornada com bandeiras de Israel, decidiu propor a legalização retrospectiva do posto avançado (colonato ilegal à luz do próprio direito israelita) de Mevo'ot Yeriho, nas proximidades da cidade palestina de Jericó. 
 
Benjamin Netanyahu já tinha anunciado na passada terça-feira a intenção de, se reeleito, promover a anexação do Vale do Jordão, que faz fronteira com a Jordânia e que, com 2400 km2, representa cerca de um terço da Cisjordânia ocupada.
 
A promessa de Netanyahu, sendo perigosa — e já rejeitada não só pelos palestinos como por vários países ocidentais, mas não pelos EUA, e pelos países árabes e islâmicos —, constitui ao mesmo tempo mais um esforço para atrair o voto do eleitorado de extrema direita e dos colonos, já que as sondagens prevêem um virtual empate com a lista Kahol Lavan (Azul e Branco).
 
Na campanha para as eleições de terça-feira, convocadas após Netanyahu ter sido incapaz de constituir uma maioria de governo na sequência das eleições de Abril, a quase totalidade das listas tem competido em agressividade relativamente à questão palestina.
 
Tanto a lista Kahol Lavan (do ex-chefe de Estado-Maior Benny Gantz) como a Yisrael Beitenu (do ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman) e a Yamina (encabeçada pela ultra-direitista Ayelet Shaked) apenas criticam a política de Netanyhanu em relação aos palestinos por não ser suficientemente dura!
 
A única lista resolutamante pró-palestina e anti-sionista é a Lista Conjunta, que congrega quatro partidos maioritariamente compostos por palestinos de Israel (20% da população do país), além de judeus não sionistas. Após apresentarem-se em duas listas separadas em Abril, os quatro partidos chegaram agora novamente a um entendimento, podendo vir a constituir a terceira força parlamentar.
 
É compreensível que os palestinos dos territórios ocupados não atribuam demasiada importância às eleições israelitas de terça-feira. Qualquer que seja o vencedor, dificilmente haverá diferenças assinaláveis na política de terror, ocupação, colonização de que são vítimas. 
 
Para mais, há que assinalar uma discriminação essencial de que são alvo os palestinos dos territórios ocupados. Nestes territórios vivem duas populações, uma com todos os direitos, outra sem direitos nenhuns. 
 
Enquanto os israelitas instalados nos colonatos — ilegais — nos territórios palestinos ocupados gozam de todos os direitos, os palestinos  não têm direito a votar numas eleições de que sairá o governo que domina todos os aspectos fundamentais da sua vida. Esta discriminação tem nome: apartheid.
 
Foto: Amir Cohen/Reuters
Print Friendly, PDF & Email
Share