Crise da água na Faixa de Gaza já causou danos irreversíveis, adverte Banco Mundial

Já foram causados danos irreversíveis em partes do aquífero costeiro da Faixa de Gaza, em resultado da extracção excessiva e de infiltrações de água do mar, afirma Adnan Ghosheh, especialista sénior de água e saneamento do Banco Mundial, numa entrevista publicada hoje, 17 de Dezembro, no jornal israelita Haaretz.
O Banco Mundial é uma das muitas organizações locais e internacionais que ao longo dos últimos 20 anos vêm alertando para o facto.
«Ecologicamente falando, os danos ao aquífero estão a piorar, e os estudos têm mostrado um aumento constante da salinidade da água», disse Ghosheh na entrevista concedida à jornalista Amira Hass. Isso aproxima a Faixa de Gaza da situação que a ONU previu em 2014: que em 2020 o território será impróprio para a habitação humana.
Num artigo publicado em Novembro no site do Banco Mundial Ghosheh recordava que ainda em fins dos anos 1990 toda a gente na Faixa de Gaza podia beber água da torneira. Entretanto, foi bombeada tanta água do aquífero natural que existe no subsolo de Gaza que a água do mar aí se infiltrou, tornando-a demasiado salgada para beber. Actualmente, só 10% dos 2 milhões ou mais de habitantes da Faixa de Gaza tem acesso a água canalizada segura (em comparação com 90% na Margem Ocidental e cerca de 85% na região Médio Oriente e Norte de África). Os outros 90% nem sequer associam a água potável ao simples acto de abrir uma torneira: a água é demasiado salgada e demasiado perigosa por causa dos esgotos sem tratamento que se infiltram no aquífero.
«Os habitantes de Gaza não podem usar a água que chega a suas casas para beber; usam-na para fins domésticos, mas para beber têm de recorrer a camiões», afirma Ghosheh. «Há cerca de 150 operadores que fornecem algum tipo de água dessalinizada, que foi filtrada para a tornar aceitável para beber e para cozinhar.» É mais cara do que a água da torneira, e do ponto de vista da higiene não está à altura dos padrões da água potável.
O Banco Mundial atribui a queda do nível de água do aquífero à extracção excessiva por causa do crescimento da população. Porém, a causa do problema radica no facto de Israel controlar a água tanto no seu território como nos territórios ocupados.
As disposições relativas à agua impostas aos palestinos nos Acordos de Oslo implicam que os 2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza só podem dispor da mesma porção do aquífero costeiro que abastecia aproximadamente 270.000 pessoas em 1949.
Embora se encare o recurso à dessalinização de água do mar em larga escala, essa opção, além de insuficiente, apresenta problemas ambientais e depende de materiais de construção, equipamentos e electricidade cujo fornecimento está sujeito ao arbítrio de Israel.
Evitar a catástrofe que se aproxima passa por Israel fornecer à Faixa de Gaza uma quantidade de água suficiente, quanto mais não seja em compensação pelas vastas quantidades extraídas da Margem Ocidental ocupada para uso dos cidadãos israelitas que vivem em Israel e nos colonatos.
A solução de fundo passa, em última análise, pelo reconhecimento de um Estado palestino independente e viável, o que implica também uma utilização equitativa dos recursos hídricos entre Israel e a Palestina.
 
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